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26 maio, 2011

'Greve na CP apenas se faz sentir porque há falta de trabalhadores'

'Greve na CP apenas se faz sentir porque há falta de trabalhadores'
25 de Maio, 2011por Frederico Pinheiro
Os ferroviários vão paralisar mais um mês, a partir do dia 28. Gestão e trabalhadores chegaram a acordo, mas o Governo não dá nenhuma resposta. Até lá, os comboios não andam. o SOL entrevista José Manuel Rodrigues de Oliveira, Sindicato Nacional dos Trabalhadores do Sector Ferroviário.

A população está contra, mas o presidente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores do Sector Ferroviário garante que ‘a luta continua’. Os trabalhadores agendaram nova greve de um mês, que começa no dia 28. A última parou quatro mil comboios da CP. José Manuel Rodrigues de Oliveira explica por que não desarmam os ferroviários.

Os trabalhadores da CP estiveram em greve dois meses…

De 26 de Fevereiro a 21 de Abril.

Às horas extraordinárias.

O problema é que a CP recorre muito ao trabalho extraordinário e daí a maior perturbação. Quase cerca de 25% da oferta é assegurada com recurso ao trabalho extra. Os efeitos desta greve, como da que agora marcámos, apenas se fazem sentir porque há falta de trabalhadores.

Isso vai contra a ideia de que há trabalhadores a mais na CP...

É possível, em algumas áreas onde foram admitidos os chamados boys, mas nas áreas operacionais há falta de pessoas.

Pouco tempo depois de acabarem dois meses de greve, vão parar de novo.

Há um acordo com a administração, que diz que as regras da Função Pública agravam os custos e, por isso, o Acordo de Empresa (AE) foi adaptado. De acordo com o AE, quando um colaborador trabalha num dia de descanso pode ser remunerado e ganhar outro dia de descanso ou recebe 250% e não deve ser compensado. Pelas regras da Função Pública, o trabalhador deve sempre ser compensado com descanso. O que cria aqui uma ‘bola de neve’ de compensações, pois obriga a CP a estar sempre a recorrer ao trabalho extraordinário. O que nós pedimos é a aplicação do AE.

A administração concorda?

A CP organizou um estudo que demonstra que a nossa solução é mais económica. O problema é que o Ministério das Finanças não o aplica, nem o avalia.

Quais os moldes da nova greve?

Já entregámos o aviso prévio de greve, que começa a 28 de Maio e vai até 30 de Junho. É uma greve ao trabalho extraordinário, mas este cenário pode ser evitado.

Os trabalhadores estão com o sindicato?

A anterior greve levou à paralisação de quatro mil comboios. Foi uma resposta forte, que superou todas as expectativas. Esperamos ter uma greve ao nível da anterior. Mas esta pode ser evitada: basta que o Ministério das Finanças se pronuncie. Ou as Finanças avaliam o estudo da CP, ou não o aceitam e demonstram que não estam de acordo com a administração.

Tem a noção de que a população não está do vosso lado?

Claro, por isso iremos fazer o esclarecimento. Esta não é uma greve ao trabalho, estamos a reclamar que o nosso descanso semanal não seja cortado.

E quando começarem a ser despedidos trabalhadores?

Ainda bem que não começaram. Vamos entrar numa fase mais complicada, o período das férias, e por isso tem de haver acréscimo de trabalho extraordinário, porque a CP não pode contratar. Se a nossa reivindicação não é resolvida rapidamente, a CP terá de suprimir serviços, porque não tem trabalhadores suficientes. O Verão pode tornar-se mais problemático.

Estaria disposto a abdicar de alguns subsídios, como o de assiduidade?

A questão dos prémios é uma falsa questão, porque prejudicam os trabalhadores. A parte variável do salário é praticamente metade do total e não se ganha no 13.º mês, durante a baixa, etc. Faz parte das nossas propostas todos os anos a sua integração no salário-base. Mas é sempre rejeitado.

Os partidos enchem, de facto, a CP de boys?

A partir de 1992 a CP foi dividida em várias empresas. Desde então, até 2008 houve uma redução de 13 mil postos de trabalho dos cerca de 26 mil existentes. Contudo, aumentou o número de quadros superiores. Há muitos que vêm para aqui e não fazem nada. É preciso uma limpeza, mas não a começar por baixo.

frederico.pinheiro@sol.pt