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26 setembro, 2012


Recebemos de um passageiro da CP a seguinte mensagem, que reproduzimos na íntegra.
A fim de proteger a privacidade de terceiros, optámos por ocultar os elementos que levem à sua identificação.
A Associação Comboios XXI quer deixar claro, antes de mais, que nada tem contra os trabalhadores da CP. Mas,infelizmente, tanto como este passageiro relata, nós também já nos deparámos com algumas situações que pouco abonam em favor quer da CP quer dos próprios trabalhadores no seu conjunto.
Por outro lado, a CP justifica os cortes na oferta de serviços pelo défice de exploração, que se calhar com mais diligência e algum brio poderia nem existir pois cobrariam mais bilhetes.


“Carta aberta ao senhor presidente da CP,

No dia … de Setembro de 2012, efectuei uma viagem entre o apeadeiro de … e a estação de Ovar. Como o local onde embarquei não tem máquina de bilhetes, a compra é feita a bordo do comboio.
No apeadeiro estavam mais cinco passageiros com o mesmo destino. O revisor dos bilhetes veio à porta e deve ter visto claramente que tinham entrado várias pessoas nas duas portas contíguas àquela em que se encontrava.
Munido de € 1,40 para pagar o meu bilhete, aguardei que o revisor viesse ter comigo (estava a nem 10 metros, e eu era o único passageiro de pé junto daquela porta).
O revisor não veio ter comigo e pensei que viria depois de cobrar o bilhete às outras cinco pessoas que estavam mais perto dele que eu. Mas não!
Nos 10 minutos seguintes, o revisor ficou a falar com uma pessoa sentada e, em cada paragem, ía à porta ver se entrava mais alguém e voltava para dentro. E continuava a conversar com a pessoa. A conversa era uma coisa banal, não estava a prestar nenhum esclarecimento àquela pessoa.
Neste momento, o comboio estava a quatro minutos do fim da viagem (Ovar). Nem eu nem os outros cinco passageiros tinham pagado o bilhete de € 1,40, o que equivale a dizer que a CP não tinha ainda cobrado os 7 euros a que tinha direito, e a obrigação de cobrar!
Como sou um cidadão que gosta de sair sem pagar, dirigi-me junto do revisor, que continuava em amena cavaqueira, e exigi-lhe o meu bilhete e a respectiva identificação a fim de informar a CP sobre o que se passa e que parece que ninguém quer ver. Trata-se do revisor n. …… e o bilhete que me foi vendido tem o n…………
Infelizmente, este cenário de desleixo não é novo mas agora as pessoas começam a reparar mais neste tipo de situações porque há muita gente que gostava de poder trabalhar para merecer o salário no fim do mês.
Já tenho observado situações em que os revisores só começam a cobrar bilhetes 20 minutos depois de o comboio ter saído da estação, e fogem para a cabine 15 minutos antes de a viagem acabar. Numa viagem de pouco mais de uma hora, parece-me um abuso.

Não sou contabilista mas este comportamento põe em risco algumas coisas importantes:
Uma delas é a saúde financeira da CP, que é uma empresa pública, que vive do dinheiro dos bilhetes mas sobretudo dos dinheiro dos impostos de todos os portugueses. Não seriam as contas da empresa bastante melhores se fossem vendidos mais bilhetes, nomeadamente às pessoas que os querem comprar mas vêem o revisor fugir ao seu trabalho?
Por outro lado, põe em perigo o transporte ferroviário porque as estatísticas disponíveis acabam por ser falsas: há muitos passageiros que não conseguem pagar bilhete e , por isso mesmo, não existem estatisticamente.

Na actual conjuntura de crise económica, financeira e laboral, chega a ser uma OFENSA a quem quer e precisa de ter um salário, encontrarmos trabalhadores ao serviço do público que RECUSAM trabalhar. Mais ofensivo e vergonhoso é alguns trabalhadores nesta situação de laxismo descontrolado, quando se vêem confrontados com comentários de alguns passageiros, se achem cheios de razão e se refugiem na cabine de condução (é seguro para os passageiros ter o revisor na conversa e a ouvir música com os maquinistas durante a viagem?)
Aos revisores que assim procedem, alguns de forma sistemática, gostava de colocar a seuinte pergunta: haverá lugar para trabalhadores que não trabalham numa empresa privada?
Sr. Presidente da CP: conhece este problema? tem a noção da sua grandeza?
Aos chefes dos revisores: que tipo de fiscalização é exercida? Uma vez que os comboios têm câmaras de vídeo, é difícil saber quantos passageiros entraram num apeadeiro e saber quantos bilhetes foram vendidos ou não? Não é estranho que alguns revisores não vendam ou controlem nenhum bilhete em cerca de 30 minutos em cada 60 minutos de viagem? As máquinas que utilizam os revisores não são ligadas a um computador?
Ao senhor presidente da CP também quero perguntar se não acha que a CP ganharia mais dinheiro e utilidade se pusesse alguns destes “trabalhadores” em casa e contratasse trabalhadores que trabalham, que vendem bilhetes? Note o senhor presidente que na curta duração da minha viagem neste dia, este revisor desperdiçou 7 euros. Quantos iria desperdiçar no comboio a seguir? E no dia seguinte? E num mês inteiro? Não era melhor dar a vez a quem precisa de trabalhar para viver?
Talvez a culpa não seja do revisor. Se calhar a culpa é dos chefes ou dos portugueses. Que começam a ficar muito cansados de aturar malandros e parasitas.
Com esta carta aberta não quero menosprezar o trabalho que a MAIORIA dos revisores da CP faz, que vende bilhetes, cobra o dinheiro, ajuda os passageiros. Mas convém não deixar uma maçã podre estragar todo o cesto.
Porque lhe escrevo esta carta aberta, senhor presidente? Porque estou indignado, eu e cada vez mais gente.