Jornal Público2009-04-11
Carlos Cipriano
Os horários dos comboios da CP estão desarticulados e obrigam a transbordos que saem caros. Em muitos casos não é possível comprar um único bilhete para toda a viagem, concluiu o PÚBLICO depois de fazer várias simulações.
O mesmo acontece se a origem for a estação de Campanhã. Do Porto para Lisboa há quase um comboio por hora, mas nem todos param em Pombal. Por isso, pode dar jeito apanhar o Alfa até Coimbra e depois o Intercidades vindo da Guarda para a parte restante do percurso. A viagem directa custa 18 euros no pendular, mas com transbordo e num comboio de categoria inferior já custa 24 euros.
Os exemplos podiam multiplicar-se. O PÚBLICO fez simulações também para a linha da Beira Baixa e chegou aos mesmos resultados: sai mais caro não apanhar os comboios directos, o que reduz a oferta ferroviária do país, diminuindo o leque de opções.
Estas situações são ainda mais graves na linha do Norte, onde, apesar da elevada frequência de composições, há estações entre as quais não é possível viajar sem fazer transbordos. Os clientes são obrigados a mudar de comboio três vezes, se quiserem ir, por exemplo, da Azambuja para Estarreja, de Vila Franca de Xira para Ovar, ou até de Alfarelos para a Mealhada.
Riachos é a estação que alegadamente serve Golegã e Torres Novas. Mas apanhar aí um comboio para Ovar implica apanhar entre três a quatro comboios. Há ligações para todos os gostos, mas a mais rápida é embarcar no Regional até ao Entroncamento, seguido de Intercidades até Aveiro e de um comboio Urbano até Ovar. Mas quem a tal se aventurar terá de descer nas estações e comprar o bilhete para o troço seguinte. E sem garantias de ligação em caso de atraso. Os preços para esta viagem variam entre 13,50 e 25,35 euros, segundo o tipo de comboios que se tomar.
O mesmo acontece da Azambuja para Estarreja, cujos preços variam de 17,65 a 28,65 euros.
Transbordos à força
Mas mesmo nas distâncias curtas, tem de se fazer transbordos. Alfarelos e Mealhada - na linha do Norte - distam 46 quilómetros, mas entre estas estações não há um comboio directo. A CP oferece três combinações entre Regionais, Urbanos e Intercidades, com mudança em Coimbra ou na Pampilhosa, e preços que variam entre 2,60 euros a 10,35 euros.
Se é assim no principal eixo ferroviário do país, o caso piora nas linhas colaterais. Do Bombarral a Espinho não se pode viajar sem se apanhar quatro comboios. E o preço? 19,75 euros ou 20,55 euros, sendo o mais caro aquele que obriga aos maiores tempos de espera durante os transbordos.
Além das tarifas não parecerem ter lógica, acresce que, na maior parte dos casos, os passageiros não podem comprar um único bilhete para toda a viagem porque a transportadora tem a sua oferta dividida em unidades de negócio - CP Longo Curso, CP Regional, CP Lisboa e CP Porto - sem que haja entre elas uma coordenação de horários e tarifas. Sem esta, perde-se o efeito rede, que é uma das grandes vantagens do sistema ferroviário no mundo inteiro.
Outras vezes os motivos para os transbordos são meramente operacionais. Entre Óbidos e Leiria (na linha do Oeste) não há comboios directos e quem quiser ir à praia desde o Bombarral a São Martinho do Porto (30 quilómetros) é obrigado a mudar nas Caldas da Rainha, por vezes com tempos de espera de 40 minutos.
Porquê? A explicação é dada pela própria CP: há transbordos porque as automotoras vão abastecer-se de gasóleo.