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12 agosto, 2008

Porto-Braga já atingiu procura prevista para 2014

Público :: 2008.08.12 :: Samuel Silva

CP vendeu mais de 5 milhões de bilhetes para viagens entre as duas cidades durante o ano passado.

Todos os dias, Paula Cerqueira viaja de automóvel desde Ponte de Lima até Braga, apenas para tomar o comboio em direcção ao Porto. São mais de 30 quilómetros e cerca de 40 minutos entre a sua casa e a estação, antes de uma viagem de mais de uma hora até à segunda cidade do país.Ponte de Lima está a pouco mais de uma hora do Porto numa viagem de carro que percorre em grande parte uma auto-estrada sem custo para o utilizador, mas o comboio é a alternativa mais competitiva. "A opção pelo comboio justifica-se por uma questão de poupança. O combustível está muito caro", afirma Paula Cerqueira. Viaja há três anos na linha de Braga, desde a renovação e electrificação da via, um verdadeiro ponto de viragem na competitividade deste serviço.

De acordo com a CP, no último ano viajaram 5,1 milhões de passageiros entre as duas cidades no serviço urbano. E a capital do Minho passou a ser servida pelo Pendular, justificando um investimento do Estado de 200 milhões de euros na reconversão do traçado. O sucesso tem espantado até os responsáveis da empresa ferroviária, depois de, no ano passado, terem atingido o nível de procura previsto para 2014. O sucesso escapou à própria CP, mas não surpreendeu Cadima Ribeiro, professor de Economia na Universidade do Minho. "Há um conjunto de circunstâncias que explicam este sucesso, a começar pela qualidade de serviço, que antes não existia", afirma.

Cadima Ribeiro acrescenta outros factores, como a subida dos preços dos combustíveis e a política de preços da CP, que tornam a linha "extremamente competitiva". O investigador da UM destaca ainda o serviço complementar que a CP oferece (como o estacionamento em Braga) e o desenvolvimento da rede de transportes urbanos no Porto (STCP e Metro) como forma de explicar o crescimento verificado.

Zulmira Silva viaja há 15 anos na linha de Braga e ainda se lembra de como era viajar de comboio antes das obras inauguradas em 2004. "Chegavam a ser precisas duas horas para chegar ao Porto. O salto tecnológico nesta linha é, aliás, um dos mais notórios de toda a rede ferroviária nacional, já que no ramal de Braga circulavam, ainda em 1975, locomotivas a vapor. "Ganhámos em tempo e melhoraram muito as condições em termos de conforto", avalia.

Os custos foram fundamentais para justificar a opção pelo comboio para Natália Fernandes. Desde Vila Verde, onde vive, até Braga, faz 17 quilómetros por dia de automóvel, até à estação. "Ir de carro directamente para o Porto é mais dispendioso", considera. Já viajava na linha antes da remodelação de 2004 e tem sentido o aumento de utentes: "Nota-se um crescimento da procura muito significativo. Até é mais difícil encontrar lugar para estacionar perto da estação."

CP vai reforçar serviço
Mas nem tudo são elogios ao serviço da linha de Braga. Os problemas da ligação são vários e justificaram o aparecimento de um movimento de utentes que, desde o início do ano, tem apontado erros à CP. José Pedro Santos, presidente associação Comboios do Século XXI, que sucedeu à comissão de utentes da linha Braga-Porto, entende que a ligação "tem tido uma enorme procura, mas que seria ainda maior se as condições fossem melhores".

A primeira falha é o excessivo tempo gasto para percorrer pouco mais de 50 quilómetros de via. As viagens duram cerca de uma hora e quinze minutos, quando os estudos anteriores à reformulação do traçado apontavam para 40 minutos.

Depois dos primeiros protestos dos clientes, a CP criou algumas ligações mais rápidas, à custa de algumas paragens subtraídas. Para a associação de utentes é curto, mas sabem que é difícil fazer melhor com os constrangimentos existentes na via. A passagem pela Trofa faz-se em via única e, entre Ermesinde e Contumil, numa zona de confluência de três linhas (Braga, Guimarães e Douro) a via é apenas dupla. E a resolução desses problemas só acontecerá depois de 2011.

A nova associação quer ainda resolver a falta de comboios em horário nocturno e aumentar o número de ligações existente ao fim-de-semana. A CP anunciou que, no último trimestre do ano, vai reforçar os serviços nestes dois horários, nomeadamente com a introdução de um comboio em cada sentido à meia-noite.