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28 novembro, 2008

Os comboios continuam a ficar para trás

Artigo de opinião publicado no JN a 27.11.2008



Foi publicado no Diário da República, 2ª série, de 23 de Outubro de 2008, um despacho do Secretário de Estado Adjunto das Obras Públicas e Comunicações que declara a utilidade pública com carácter de urgência da expropriação dos bens imóveis necessários à execução de obra na A3 consistente no alargamento para 8 vias (2x4) no sublanço Maia –Santo Tirso.

Este despacho deu origem, nestes dias, a um interessante debate no âmbito da Associação Comboios do Século XXI pois o sócio que encontrou esta informação chamou a atenção para o facto de se estar a fazer em bom ritmo a ampliação para 8 (oito) faixas da auto-estrada A3 a partir do Porto, enquanto na linha ferroviária Porto-Braga está prevista apenas para 2013 a existência de 4 (quatro) vias no troço entre Contumil e Ermesinde. Não compreendia este sócio como se estava a alargar a auto-estrada e não se dava prioridade à ferrovia deixando por resolver aquele estrangulamento que prejudica gravemente o desenvolvimento dos transportes ferroviários não só entre Porto-Braga como também entre Porto-Guimarães e Porto-Penafiel. Toda a gente está de acordo que não faz sentido que o troço entre Contumil e Ermesinde continue apenas com 2 vias.

Veio, entretanto, outro associado chamar a atenção para o facto de ser bom ampliar a auto-estrada e que uma coisa (ampliação da auto-estrada) não é incompatível com a outra (ampliação de um troço da via férrea). Interveio, então, o Presidente da Associação para dizer que o problema não era alargar a A3 (ele também a usava) mas antes deixar para trás os comboios. Escrevia a certo momento: “a prioridade dos investimentos públicos em matéria de transportes vai sempre para a rodovia e (quase) nunca para a ferrovia. Foi assim nos últimos 40 anos e pelos vistos a tendência não vai mudar”.

Na verdade, esta falta de vontade política para resolver rapidamente o engarrafamento gravíssimo que resulta da estreiteza da linha entre Ermesinde e Contumil só se compreende à luz de um forte menosprezo pelo transporte ferroviário. Doutro modo não se apontaria para 2013 a resolução de um problema que deveria ser resolvido nos próximos dois anos. E o mais grave é que sobre esta matéria apesar das informações que a Associação pediu ao Governo através dos senhores deputados não recebeu ainda (e já passaram vários meses) nenhuma resposta sobre a situação em concreto deste alargamento. Como não obteve resposta para outra pergunta formulada na mesma altura relativa à data exacta do início da obra de duplicação da via na Trofa (que já está a decorrer) e a data em que a obra será entregue para poder começar a funcionar. É que na Trofa a linha ferroviária Porto-Braga continua com uma única via!

Na verdade, os comboios continuam a ser desprezados e este silêncio do Governo e dos deputados fala muito alto…

António Cândido de Oliveira
Professor na Universidade do Minho