
Ex.mo Senhor Ministro:
Numa excelente crónica publicada no JN [27.11.2008], o professor António Cândido Oliveira faz notar uma singularidade da política seguida pelo Ministério que V.Exa. dirige: a rodovia continua a ter primazia absoluta sobre a ferrovia! Refere-se o cronista à urgência com que V.Exa. e o seu Secretário de Estado Adjunto preparam a duplicação da A3 entre Santo Tirso e a Maia, passando-a para oito faixas de rodagem, enquanto a duplicação da via férrea entre Ermesinde e Contumil, passando-a para quatro linhas, nem sequer está agendada.
Na Europa civilizada, multiplicam-se os investimentos na ferrovia: na Alemanha da senhora Merkel, os investimentos na ferrovia serão dez vezes superiores ao da rodovia; na França do senhor Sarkozy, a SNCF fez uma encomenda à Bombardier de mais de mil automotoras para o transporte de passageiros. E por cá? Bem, os urbanos do Porto poderão contar com oito novas composições ao longo dos cinco anos que se seguirão a 2010 (e já hoje essas oito seriam insuficientes para satisfazer a procura), a variante da Trofa talvez seja concluída com apenas seis anos de atraso, e o funil de Ermesinde prevalecerá por tempo indeterminado.
Não sei quantas pessoas circularão na ampliada A3. No estrangulamento Contumil-Ermesinde, somos já mais de 7,5 milhões de passageiros por ano, dos quais 4,5 milhões ainda têm de presente a via única da Trofa. Aos sete milhões e meio, somem-se uns quatro milhões na linha Porto-Aveiro. Todos em comboios sobrelotados em horas de ponta, em viagens excessivamente longas, com horários miseráveis. E os números continuarão a crescer a um ritmo impressionante, que tenderá a aumentar, quer por efeito do agravamento da crise económica, quer pelo esperado aumento do preço dos combustíveis logo que a recessão amenize.
Senhor Ministro: dos 56 deputados eleitos pelos círculos de Braga e do Porto, uma boa parte dependerá do voto de quem viaja nos comboios urbanos das linhas de Braga, Guimarães e Penafiel. Se uma razão de Estado (a da necessária opção pelos transportes colectivos, particularmente pelo menos poluente transporte ferroviário) não se sobrepusesse, pelo menos essa circunstância deveria pesar nas considerações de V.Exa. e dos Secretários de Estado que com V.Exa. trabalham.
Aceite V.Exa. os meus melhores cumprimentos.
Carlos de Sá
NOTA: pode seguir este exemplo e enviar email dirigido ao Sr. Ministro, para: gmoptc@moptc.gov.pt
NOTA: pode seguir este exemplo e enviar email dirigido ao Sr. Ministro, para: gmoptc@moptc.gov.pt