in Diário do Minho, 2009-06-22
Fala-se muito de transporte ferroviário e faz-se muito pouco.
Andamos há 5 anos para acabar a duplicação da via férrea entre Braga e Porto e continua ainda o estrangulamento na Trofa.
Por outro lado, ainda nem sequer começaram as previstas obras de aumento de duas para quatro vias no trajecto entre Ermesinde e Contumil , alargamento extremamente necessário, pois chegam a Ermesinde comboios vindos do Douro, vindos de Guimarães e de Braga e Valença, tendo todos eles apenas duas vias para circularem com o estrangulamento consequente.
Entretanto, levantam-se por todos os lados obstáculos a que se façam linhas férreas do nosso tempo ou seja linha férreas para comboios que hoje circulam a 200 e mais quilómetros à horas e não a 50 ou 60 como no século XIX.
Ninguém se opôs ( ou se houve oposição ela foi vencida) a que no último quartel do século XX e já no nosso século se construíssem auto-estradas que são as vias apropriadas para a circulação, em quantidade e qualidade, dos automóveis de hoje.
Qual a razão por que não se faz o mesmo para os comboios?
Os comboios modernos não estão feitos para circular em vias antigas cheias de curvas e declives, não havendo remendos que as possam endireitar.
Pode-se discutir construir mais ou menos. Porventura construiram-se auto-estradas a mais e vias férreas a menos ( e isto é uma força de expressão, pois vias férreas modernas de bitola europeia não temos nada) mas é preciso equilibrar isto.
Só uma política de vistas curtas impedirá que se construa pelo menos uma ligação moderna entre Porto-Braga e Galiza e outra, dando continuidade a esta, entre Porto e Lisboa.
Se tivesse havido nestes últimos 20 anos (não é preciso recuar mais) uma política transportes bem planeada já hoje poderíamos ir a de Braga a Lisboa, com segurança, em menos de duas horas ( e com tempo para parar em duas ou três cidades) e não em 3,30h como sucede ainda hoje (o que corresponde a um média de menos de 100 Km por hora!).
E também – se tivéssemos trabalhado bem na euro-região - não teríamos de esperar quase 5 horas para ir de Braga a Santiago de Compostela. Em pouco mais de um hora estaríamos lá e vice-versa.
Estar contra linhas modernas de caminhos de ferro é uma opção, mas uma opção pelo século XIX. São os herdeiros daqueles que nesse século estiveram contra os comboios ( e não foram poucos) que hoje se manifestam de novo.
António Cândido de Oliveira
( texto inspirado no debate ocorrido no dia 20 de Junho, em Braga, na FNAC, com intervenção do Professor Cadima Ribeiro e do maquinista Dr. António Alves, por iniciativa da Associação Comboios do Século XXI)