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10 dezembro, 2009

Linha do Douro: que futuro?


Alberto Aroso, 2009/12/06


Em Setembro foi assinado um protocolo envolvendo a CCDRN, a Refer, a CP e o IPTM, o qual prevê a reabertura do troço Pocinho-Barca D"Alva ao tráfego ferroviário para fins turísticos. Trata-se de uma decisão muito importante para o desenvolvimento turístico do Alto Douro, na medida em que irá originar externalidades económicas positivas em toda a região e no país.

Dado que se trata de uma linha que ainda não foi alvo de uma modernização profunda, importa perceber se este investimento deve apenas incidir numa mera e simples reabilitação do troço em causa destinado apenas a realizar alguns comboios turísticos, ou se se deverá ir mais longe e transformar esta infra-estrutura num importante acesso ao interior da Península Ibérica e à Europa. Tendo ainda em conta que atravessa uma região turística de excelência, a mesma poderá vir a ser a porta de entrada no nosso país.

O troço entre Caíde e Barca D"Alva representa 77 por cento do total da extensão da linha, configurando, por isso, um cenário privilegiado para a introdução a médio prazo da bitola europeia, o que, aliado ao Porto de Leixões e a um porto fluvial no Pocinho a construir, representaria um importante eixo ferroviário, quer de passageiros, quer de mercadorias, para o Norte de Portugal, o qual poderia ainda estar ligado às Beiras via Vila Franca das Naves.

Atendendo à modernização já efectuada entre Porto e Caíde, a resolução de tal limitação poderá passar pela introdução de bitola europeia no troço já modernizado, mas com vocação de transporte suburbano de passageiros, ou então construir um eixo novo, igualmente em via única, mas cujas prestações permitam reduzir o tempo de acesso à região.

Tendo já sido discutida a reabertura da Linha do Tua e sua ligação à rede de Alta Velocidade (AV) espanhola em Puebla de Sanabria, se tal investimento também implicar a alteração para bitola europeia, toda a região passará a dispor de uma rede ferroviária com ligação directa à rede de AV ibérica, criando-se assim um facilitador económico, imprescindível para o desenvolvimento daquela que é a região mais pobre da Europa, nomeadamente no que ao turismo respeita, pelas oportunidades que poderia gerar, tais como serviços ferroviários directos para a Europa via região do Douro, Mirandela e Bragança, ou serviços Porto-Madrid, via Salamanca.

Importa ainda perceber a forma como deverá ser efectuada a exploração da linha, porquanto ser necessário separar a oferta de longo curso da regional, deixando esta última para uma pequena empresa a criar pelos municípios servidos pela infra-estrutura, a qual terá melhores condições para oferecer serviços mais baratos e ajustados às necessidades locais, libertando-se assim o longo curso para a sua vocação turística, convertendo-o num serviço internacional Porto-Salamanca.

Deve-se, por tudo isso, equacionar muito bem qual o investimento a realizar e a respectiva dimensão, dado ser uma infra-estrutura que se insere numa região à qual, recentemente, foi-lhe atribuída pela National Geographic um honroso sétimo lugar nos destinos turísticos sustentáveis a nível mundial. Mais ainda, no cenário acima proposto, pode bem vir a representar uma importante alternativa à AV entre Porto e Madrid via Lisboa, quer em tempo, quer nos custos da respectiva tarifa.