SEARCH

04 dezembro, 2009

JN: "Confusão nas Estações do Porto"


in JN, 2009/12/04
por PEDRO OLAVO SIMÕES, com DORA MOTA, HERMANA CRUZ E JOANA VIEIRA

Morto pelo próprio comboio
Trabalhador da CP colhido, perto de Campanhã, quando mudava agulha manualmente.

Uma avaria na sinalização foi fatal para um trabalhador da CP. Forçado a sair do comboio, para fazer uma mudança de agulhas entre S. Bento e Campanhã, no Porto, foi colhido mortalmente pela composição em que seguia.

Em plena hora de ponta - por volta das 18.30 -, o acidente provocou o caos nas duas principais estações portuenses, se bem que a circulação ferroviária tenha sido reposta com alguma celeridade. No local, junto à ponte de S. João, a equipa do INEM não conseguiu evitar o falecimento de Jorge, um experiente operador de manobras de 55 anos, residente em Penafiel, que sofreu a amputação de um membro e paragem cardio-respiratória.

As circunstâncias do acidente, descritas ao JN por fonte do Batalhão de Sapadores Bombeiros, do Porto, coincidiam, no detalhe da avaria, com o que se ia ouvindo a ferroviários, tanto em S. Bento como em Campanhã. Acrescentam, porém, um detalhe surrealista à tragédia. No momento em que procedia ao acerto das agulhas, a vítima ter-se-á apercebido de um comboio que se aproximava, em sentido contrário, recuando, por reflexo. Nesse mesmo momento, o maquinista da composição em que o técnico seguia, percepcionando que o problema estava solucionado, fez andar a locomotiva, atropelando-o.

Até às 19.05, hora a que o primeiro comboio deixou a estação de S. Bento, rumo a Braga, a circulação esteve interrompida. Mas só pelas 19.45 o corpo foi retirado do local, depois de aí comparecer o delegado de Saúde. Além das equipas médicas, dos sapadores e dos Bombeiros Voluntários do Porto, um forte dispositivo de segurança serviu para manter à distância os cidadãos que tentavam ver de perto o que por ali ia sucedendo. Mas a verdadeira confusão era a que se vivia nos terminais de passageiros, intensificada pela desinformação e pela pressa que todos tinham em pôr-se a caminho de casa, ao cabo de uma jornada de trabalho.

Foi em S. Bento, de onde há partidas e chegadas contínuas de comboios suburbanos, que o caos se declarou em primeiro lugar. Começando a aperceber-se dos atrasos, os passageiros tentavam obter esclarecimentos, e nem sempre estes eram claros. Houve quem soubesse que estava um corpo na linha, mas também se ouvia quem garantisse que uma catenária tinha caído ou que existisse, apenas, um corte nas comunicações entre as duas estações ferroviárias. A páginas tantas, as pessoas eram aconselhadas a tomar o metro, rumo a Campanhã, pois muitas tinham de fazer, aí, a transição para os comboios que as levariam aos destinos finais.

E com as pessoas transitou a confusão. Para o metro, primeiro, formando-se aí longas filas para as máquinas dispensadoras de títulos de transporte (muitos passageiros queixavam-se de essa despesa não ser coberta pela CP), e para Campanhã, depois. Aí, a balbúrdia nas informações era notória, enquanto a normalidade não foi reposta. A título de exemplo, um comboio com destino a Penafiel foi, sucessivamente, anunciado para linhas diferentes (e sem que a informação estivesse disponível nos quadros gerais), levando as pessoas, desorientadas, a saltar para os carris, em vez de optarem pelas travessias subterrâneas.