
Ex.mo Senhor
Ministro das OP Transportes e Comunicações
Ex.mo Senhor
Secretário de Estado dos Transportes:
Graças aos porfiados esforços de V.Exas., cheguei hoje ao trabalho com meia hora de atraso, depois de gastar noventa minutos, nos transportes públicos, a percorrer a distância de 20 Km que separa a minha casa do meu local de trabalho.
Não contentes – quem o ficaria? umas centenas de milhar de portugueses? e isso conta? – com a suspensão, sine-die, da extensão do metro à Trofa, uns enormíssimos 15 km que gastariam o equivalente a um pedacinho do NAL, quiseram V.Exas. privar-me do luxo do comboio na linha de Leixões, obrigando-me a um percurso em velhos e podres autocarros, que demora apenas mais do dobro do tempo, acrescendo que, para eu não estranhar tanta atenção, o autocarro passa quando passa, sujeitando-me aos rigores do tempo em paragens que só têm o sinal.
Deitar mais de 3 milhões de euros borda fora, que foi quanto custou, segundo a CP, recolocar a linha de Leixões ao serviço dos passageiros, nem incomoda V.Exas. – afinal o dinheiro não é vosso; mas gastar apenas mais três por cento dessa verba para conferir rentabilidade à linha, isso é que não, que em tempos de contenção manda a melhor doutrina económica poupar farelo e desperdiçar pão. Encerrar mais um pedaço de ferrovia é que é a prioridade – evidentemente porque nenhum de V.Exas. algum dia andou de comboio nas suas deslocações diárias, e actualmente o nosso dinheiro até vos paga confortabilíssimos automóveis de topo de gama.
Há, no entanto, uma medida que V.Exas. tardam em tomar: a STCP, sabe-se, é um poço sem fundo em matéria de dívidas; ora, para acudir a esse problema, urge acabar com metade das carreiras, ou talvez mesmo mais. Assim já não terei que me queixar dos horários nem das horríveis condições em que o serviço é prestado, simplesmente por não haver serviço.
Certo dos vossos melhores esforços para a liquidação dos transportes públicos em Portugal, particularmente da sua variante menos poluente que é o comboio, subscrevo-me com renovada esperança num país em cacos.
Com os melhores cumprimentos,
Carlos de Sá
Vila Nova de Famalicão