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01 fevereiro, 2012

Aumentos de preços só vão piorar o desempenho das empresas – a solução está na conquista de utentes com serviços melhores e mais económicos



Comunicado de Imprensa da Comboios XXI- Associação de Utentes dos Comboios de Portugal

As subidas de preços que irão ocorrer novamente esta semana têm como objectivo declarado melhorar o desempenho económico das empresas ferroviárias em Portugal mas terão rigorosamente o efeito contrário, piorando ainda mais a situação devido às previsíveis quebras de utentes atribuíveis ao elevado custo dos passes e dos bilhetes, que é agravado pela crise económica do país. 

A Associação de Utentes dos Comboios de Portugal acredita que na verdade é precisamente porque estamos em crise que deve ser reconhecido o papel estratégico que têm o transporte público em geral e a ferrovia em particular, na capacidade que têm de conservar alguma poupança por parte dos cidadãos sem prejuízo para a sua mobilidade no quotidiano.

Sabemos também que com esta subida de preços é perdida uma oportunidade única de reverter a deterioração destas empresas, que acumulou 40% de perdas de utentes nos últimos 20 anos, em completo contra-ciclo com o resto da Europa, uma vez que a existência de alternativas económicas e convenientes ao automóvel traria muitos novos utilizadores ao transporte colectivo, ajudando também a cumprir metas ambientais para além de económicas.

A subida de preços e o corte na oferta de ligações e linhas tem também um peso negligenciável na eliminação dos verdadeiros problemas destas empresas, que são um historial de má gestão e uma dívida gerada por políticas de desinvestimento que levam a que dos 195 milhões de euros em prejuízos anuais da CP, 160 milhões são relativos a juros, para receitas de 70 milhões.


Ou seja, se a CP aumentasse o número de utentes em 50% com os preços anteriores aos aumentos a empresa cobriria todos os seus custos de manutenção mas o problema do endividamento ficaria exactamente igual.

A única estratégia verosímil passa por uma solução política para o problema da dívida e pela conquista de utentes aproveitando as vantagens inerentes a este meio de transporte, associado a uma política de preços realista e ambiciosa, acompanhada de uma melhoria contínua do serviço prestado.

Para contribuir para atingir este objectivo, a Associação de Utentes dos Comboios de Portugal tem as seguintes propostas a apresentar, no que diz respeito à política comercial da CP:

- Congelamento dos preços e descontos dos passes, colocando-os nos valores de início de 2011 de forma a que se tornem mais atractivos para viajantes quotidianos e os fidelizem

- Criação em toda a rede de um novo bilhete-família a aplicar a pequenos grupos até 5 pessoas e com descontos cumulativos a partir de 20% e até 50% no total

- Aumentar e abranger os actuais descontos multi-viagens (“paga 10 ganha 1”) em todos os serviços, passando o desconto mínimo de 10 para 20% (“paga 5 ganha 1”)

- Campanhas promocionais de ofertas de viagens e passes em passatempos e prémios, de forma a trazer mais pessoas para experimentarem os serviços em vários horários

- Perseguir mais protocolos com escolas, empresas e unidades hoteleiras e agências de viagens de forma a que tenham acesso a passes especiais e pontuais com descontos maiores

- Fazer com que as ajudas de custo relativas a transportes para detentores de cargos públicos seja restringida a transporte público como o ferroviário, tal como sucede com os quadros das empresas de transportes

- Criação de bilhetes “Last-minute” e “Off-peak” para percursos de maiores dimensão, com preços especiais

- Melhorar o serviço prestado com pequenas intervenções baseadas no conforto, como criação de serviços expresso intercalados com serviço regular e introdução de internet wireless e de tomadas eléctricas nas carruagens.

Estamos certos que estas pequenas alterações irão ter no nosso país o mesmo impacto positivo que tiveram em todos os outros casos em que foram aplicadas, acabando com a noção de que são os custos de operação que são um entrave à saúde das empresas e promovendo finalmente uma política responsável de aposta neste meio de transporte seguro, económico, eficiente, ecológico e, finalmente, conveniente.

A direcção da Associação dos Utentes dos Comboios de Portugal – Comboios XXI
Braga, 31 de Janeiro de 2012