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21 novembro, 2009

Pouca gente, pouca gente


in JN, 2009-11-21
foto Pedro Correia/JN


Linha de Leixões tem procura crescente, mas só com novas estações deverá tornar-se verdadeira alternativa, com mais passageiros

Falta pouco para as 16 horas e na estação de Leça do Balio, em Matosinhos, não há vivalma. Ouve-se uma algazarra infantil ao longe. É hora de recreio. Os gritos das crianças só são abafados quando chega a composição que cumpre o serviço na linha de Leixões, reaberta há pouco mais de dois meses para o serviço de passageiros, após décadas de inactividade.

Um homem, passo hesitante, ar de poucos amigos, entra numa carruagem. João Pedro, 17 anos, também chega. Vai para o último banco da última carruagem. Buba, 40 anos, há-de subir em S. Mamede de Infesta. Um trio de passageiros na viagem. Muitos lugares vazios. O espelho de uma linha que, apesar de registar uma procura crescente, ainda espera pela entrada em operação de mais estações para transformar-se numa verdadeira alternativa de transporte público. Há pouca gente no "pouca-terra, pouca-terra".

"A evolução da procura na linha de Leixões encontra-se dentro das expectativas para aquele troço, recentemente reaberto ao tráfego", afiança a CP. Os números da operadora ferroviária demonstram uma tendência crescente na utilização da linha: 200 passageiros por dia na primeira quinzena de Setembro; 300 passageiros por dia na segunda quinzena de Setembro; 600 passageiros por dia na primeira quinzena de Outubro.

Como há 57 comboios diários (somando as viagens nos dois sentidos), a média de passageiros também tem evoluído favoravelmente: passou de três por comboio para as 12 pessoas por composição. Muitos lugares vazios.

"O máximo de pessoas que vi foram cinco ou seis", comenta Buba, que utiliza diariamente a linha para chegar a Ermesinde, onde frequenta uma escola de condução. "É confortável e rápido. Dá-me muito jeito", atira, sorridente, o passageiro, lembrando que antes tinha de apanhar dois autocarros para chegar às aulas.

"Uso a linha todos os dias, de segunda sábado. É uma grande vantagem", reitera Buba. Só espera que a escassez de passageiros não leve a CP a repensar o serviço e a penalizar quem já encontrou na linha de Leixões a alternativa de deslocação ideal.

João Pedro admite que possa haver um problema de falta de informação por parte dos utentes, que desconhecem as virtualidades da nova ligação ferroviária.

"Entrará em breve a segunda fase de promoção do serviço junto de potenciais clientes, que deverá coincidir com a abertura das novas paragens e alargamento do serviço a Leixões", revelou a CP.

De acordo com as previsões da empresa, ainda durante o primeiro semestre do próximo ano deverão entrar em operação mais duas estações: Arroteias e S. João. Esta plataforma vai assegurar uma ligação ao metro e ao terminal de autocarros que existe junto ao hospital. Constitui, assim, uma das principais apostas para atrair passageiros à linha ferroviária de Leixões. "Nessa altura, deve haver mais gente a utilizar os comboios", acredita Buba.

Outro impulso significativo em matéria de afluência deverá acontecer com a efectiva extensão do serviço até Leixões, que está prevista também para o próximo ano. Conforme noticiou o JN, a gare terminal deverá ser construída num terreno com 18 mil metros quadrados que pertence à APDL - Administração dos Portos de Douro e Leixões. A empreitada implicará um investimento na ordem dos 10 milhões de euros e deverá incluir uma ligação directa à estação de metro do Senhor de Matosinhos.

João Pedro, um fã da linha

É um sossego. De Paredes a Ermesinde e de Ermesinde a Leça do Balio. Sempre de comboio. Rápido e sem filas. Para João Pedro, a linha de Leixões já se tornou imprescindível: "Viajo todos os dias". O martírio por que passava para chegar à Unicer, onde está a estagiar, faz parte do passado.

"Entrava no comboio em Paredes e ia até S. Bento. Depois, ia no metro até ao Hospital de S. João, onde apanhava o autocarro até à Unicer", contou o jovem, de 17 anos. João Pedro Vieira Silva garante: com a linha de Leixões, consegue poupar entre 20 a 30 minutos em cada viagem entre casa e o trabalho. O único senão do serviço, segundo aponta, é o preço. O bilhete ainda é caro. "O que vale é que se trata de uma zona andante e, assim, fica mais barato", explicou o passageiro. Uma viagem entre Leça do Balio e Ermesinde, com bilhete comprado dentro do comboio, fica por 1,40 euros. Usando o andante, como apenas é necessário um Z2, o trajecto obriga a desembolsar, apenas, 95 cêntimos. Os titulares de assinatura mensal andante para aquela zona também pode utilizar a linha de Leixões.

Espaço não falta a João Pedro. Vai sozinho na carruagem. Em todo o comboio, só há mais dois passageiros. "Anda pouca gente. Já cheguei a ir sozinho, mais o maquinista e o revisor", contou.