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10 fevereiro, 2011

CP só vai realizar 25 por cento dos comboios previstos para hoje

Trabalhadores contestam cortes salariais

10.02.2011 - 08:32 Por Sérgio B. Gomes, Raquel Almeida Correia



O sector dos transportes entra no terceiro dia de greves, com paralisações na CP, Refer e EMEF. O sindicato fala em adesão de 95 por cento.

Fonte oficial da CP, que não vai disponibilizar transportes alternativos aos passageiros, disse à Lusa que “deverão realizar-se 25 por cento dos comboios previstos” entre as 5h e as 9h e entre as 17h e as 20h.

Até às 7h00, já tinham sido suprimidas 70 ligações, de acordo com informações prestadas pela porta-voz da empresa, Ana Portela, à TSF.

A CP prevê ainda que, nas linhas suburbanas de Lisboa (Cascais, Azambuja, Sintra e Sado), que dispõem de 770 comboios diários, só se realizem 50. E, nas linhas suburbanas do Porto, onde há diariamente 310 ligações, só serão feitas 36.

Só a partir das 10h é que a empresa garante que será possível “assegurar uma boa parte dos comboios de longo curso e mais de metade dos comboios regionais”, voltando a situação a agravar-se a partir das 17h.

Contactado pelo PÚBLICO, o Sindicato Nacional do Setor dos Transportes Ferroviários (SNSTF) avançou que a adesão dos trabalhadores rondou os 95 por cento, até às 8h.

Greve nos transportes continua
Além da CP, também a Refer e a Empresa de Manutenção de Equipamento Ferroviário (EMEF) vão paralisar dutante todo o período de trabalho, à excepção dos trabalhadores de tracção (grupo que inclui os maquinistas), cuja paragem vai ser realizada entre as 5h e as 9h.

A greve dos trabalhadores ferroviários segue-se às paralisações do Metropolitano de Lisboa (na segunda-feira) e da Carris, da Sociedade dos Transportes Colectivos do Porto (STCP) e da Transtejo (na quarta-feira).

Os protestos, convocados por sindicatos da CGTP, UGT e independentes, servem para contestar os cortes salariais impostos pelo Governo às empresas públicas, obrigando a uma redução de, pelo menos, cinco por cento nas remunerações totais.

Além do sector dos transportes, também os CTT – Correios de Portugal têm paralisações parciais agendadas para o dia de hoje.

Uma manhã calma em S. Apolónia
Às 7h20, no painel de partidas e chegadas da estação de S. Apolónia, em Lisboa, a palavra “suprimido” era repetida linha atrás de linha, indicando a inexistência de todos serviços de comboio Alfa, Intercidades e regionais que deviam partir daquela estação. A manhã foi calma comparada com a azáfama habitual na estação. Há mangueiras de limpeza espalhadas pelo chão, seguranças, polícias e sem-abrigo que, às primeiras horas da manhã, aproveitam os bancos da estação para dormir. Os passageiros que usam a estação de Metro de S. Apolónia protagonizam os poucos movimentos nas duas grandes naves, onde as composições se impõe, imóveis.

Hélder Lopes, segurança, soube na véspera da paralisação, mas mesmo assim arriscou vir para a estação. Resultado: não vai conseguir chegar ao destino a horas. “Acabei de falar com o meu chefe. Já o avisei que não vou chegar no horário previsto. O mesmo vai acontecer com Assane Sall que tinha planeado viajar até ao Porto num dos primeiros comboios Alfa, mas a deslocação vai ter de ser adiada. Assane vai ficar à espera do fim da greve, marcada para as 9h30, para tentar chegar ao destino.

Mal vê um funcionário da CP fardado, uma passageira atira: “Os comboios não estão a andar?”. Fernando Frutuoso, chefe da estação, responde que “não” e convida-a a olhar para o painel das partidas e chegadas, onde “suprimido” continua a ser a palavra dominante. Frutuoso prevê que o Alfa das 10h48, com destino a Braga, seja o primeiro comboio a partir da estação.

Uma farda da CP num dia de greve de comboios chama a atenção dos poucos que tinham esperança de viajar hoje de manhã. Eduardo Silva pergunta se há comboios. Fernando Frutuoso dá a resposta que repetirá hoje muitas vezes. “Não”. Eduardo fica zangado e mostra logo o passe da CP. “Paguei 145 euros para isto!”. Desconhecia a greve e culpa a empresa por não o ter avisado antes. Viaja quase todos os dias para Santarém e nos últimos dias não recebeu qualquer indicação da paralisação. “Preferia ficar mais tempo em casa. Assim vou ter de ficar aqui horas à espera. É a vida!”, resigna-se.

Notícia actualizada às 9h14